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Foto: esportes.r7.com |
A Copa do Mundo de 2015, que consagrou a seleção americana
como tricampeã, deixou um forte legado em todos os prismas possíveis: o aumento
do público nos jogos dos campeonatos nacionais; a agradável surpresa da inédita
terceira colocação da seleção inglesa, contribuindo para o reconhecimento das lionesses em seu país de origem; a
última participação de Formiga, depois de 20 anos representando a seleção.
Todavia, se houve um ponto que foi exaltado de forma
negativa durante a competição, foi o que se refere a inércia das grandes
mídias, principalmente as brasileira, em relação ao fato. A pífia atenção que
foi voltada a participação da seleção brasileira, pelos jornais, revistas, e
emissoras de televisão em geral, põe à tona a seguinte questão: seria a mídia a
grande barreira a ser superada para o triunfo do futebol feminino?
Antes de mais nada, analisaremos como se deu a transmissão
da Copa do Mundo Feminina no Brasil, usando de exemplo o canal Sportv. Dono dos
direitos de transmissão de diversos campeonatos de futebol, ficou responsável
pela cobertura dos jogos do Mundial feminino na TV por assinatura.
O que se presenciou, no entanto, foi um enorme descaso da
emissora. A Copa do Mundo ficou relegada ao Sportv2, o segundo canal do pacote
da emissora. Os chefões simplesmente decidiram que não havia espaço pro futebol
feminino no canal principal. Na transmissão da final, em meio ao discurso
caloroso do narrador sobre a importância do investimento da modalidade do
Brasil, a comemoração da seleção norte americana não foi mostrada, e foi
ironicamente sobreposta por um programa mostrando os lances do Brasileirão
masculino.
Até mesmo os amistosos da seleção feminina principal sofrem
com a irresponsabilidade da emissora, sendo mostrados em pedaços, ou atrasados.
A Fox Sports, que seria a encarregada de algumas partidas do Brasileirão
feminino, também se demonstra inerte a cumprir essa função.
A falta de
comprometimento das mídias televisionadas com o futebol feminino acarreta
fortemente na pouca divulgação e, analogicamente, na baixa popularidade do
esporte entre os brasileiros, o qual afeta diretamente o desenvolvimento da
modalidade no Brasil. Desse modo, a mídia televisiva brasileira constitui-se em
um dos desafios para a promoção de um futebol mais forte.
Da mesma forma que a televisão insiste em manter uma postura
apática no que tange o futebol feminino, presencia-se esta também na vinculação
de notícias relacionadas a esse assunto, em especial as jogadoras, na internet.
É gritante a falta de informações sobre o próprio Brasileirão feminino, e os
outros campeonatos ao redor do mundo. Entretanto, o que se fixa como mais
intrigante é a imagem vinculada das jogadoras em sites de notícia online.
Demasiadas vezes, quando se tem matérias relacionadas ao
futebol feminino na internet, o foco é praticamente o mesmo: a beleza física
das jogadoras. De certo, existem muitas jogadoras que se encaixam nos padrões estéticos
impostos socialmente, e são enxergadas como bonitas. Contudo, essa
característica não deve ser ser glorificada e sobreposta as habilidades das
atletas.
A hipersexualização das jogadoras, além de tirar o foco do
que realmente importa, suas carreiras profissionais, constrói um olhar
objetificador do grande público, que enxerga e julga as atletas baseado na
estética, pautada na necessidade de feminilização destas. As jogadoras se veem
obrigadas a assumir um preocupação com seu visual e de se portarem de maneira
mais “feminina”, para poderem ser mais aceitas nos olhos da sociedade
patriarcal brasileira.
O futebol feminino vem, desde séculos, tentando arduamente
romper as barreiras do machismo e da invisibilidade na modalidade. Quando a
mídia se porta como raiz de tais barreiras, assumindo a imagem do calcanhar de
Aquiles, ela dificulta essa luta. É necessário que os meios midiáticos sejam um
impulso, um instrumento para que o esporte possa, finalmente, triunfar.
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