Não queremos ser vocês

       

(Foto: Rafael Ribeiro/CBF)

                 Co-autora: Fernanda Picorelli

O ano é 2015 e o feminismo nunca foi tão popular na história, tags de apoio as mulheres surgem nas redes sociais, protestos ganham força, sites cedem espaços para que a mulher fale e o futebol feminino começa a ganhar um mínimo espaço na mídia.

Sensacional.

Só que com todo esse crescimento surgem criticas, muitas delas sem conhecimento do assunto, apenas pra criticar, apenas para falar. E falar todo mundo fala, falar bobagem então é algo tão comum como respirar.

“Quem tem boca fala o que quer pra ter nome, pra chamar atenção das mulher (sic) e outros homens.” – Mano Brown.

O assunto é futebol feminino, muita gente gosta de falar sobre, poucos procuram conhecer.  Eu não sei ao certo quem surgiu com a ideia de que o futebol feminino quer ser o futebol masculino, que as jogadoras querem receber o mesmo que os jogadores ou que o esporte quer ser tão popular quanto o seu irmão do sexo oposto. Eu só queria poder contar a essa pessoa que ela criou um monstro.

Antes que alguém pergunte, aqui está a resposta: Essa não é a luta do futebol feminino.

O esporte não quer ser o seu irmão e mesmo que quisesse não seria.  Nenhum esporte no mundo pode pensar em ser como o futebol masculino, é irreal, é praticamente impossível, o futebol feminino nem pensa nisso. O futebol feminino quer apenas o direito de existir.

As jogadoras de futebol querem um salário que dê a elas condição de uma vida digna. Elas querem poder ter a liberdade de exercer a profissão que amam sem precisarem se desdobrar arrumando outros empregos paralelos porque as contas não fecham no final do mês.

O futebol feminino não quer falir um clube exigindo uma base salarial igual ao masculino, ele quer um espaço na tv pra render um valor por patrocínio e ver isso retornar em forma de salário, menor que o masculino, mas suficiente para ter uma vida tranquila.

Ele quer que você assista um jogo sem comparar o chute da Marta ao do Cristiano Ronaldo, assim como você não compara o saque da Jaqueline ao do Murilo. As atletas querem usar um uniforme decente, não a sobra da temporada retrasada do masculino.

O esporte quer menos preconceito e mais oportunidade, quer estar nos canais pra que você possa ver e gostar ou não gostar, é direito seu. Nós queremos que você saiba que a seleção feminina vai jogar, e ai sim possa decidir entre assistir ou deixar pra lá. Ninguém quer impor uma modalidade, só queremos existir, ter oportunidade de mostrar que somos capazes.

Bater em um esporte tão frágil é fácil, é tão simples falar o que todo mundo quer ouvir e ganhar aplausos, difícil é conhecer a luta ao lado, entender o que se passa pra depois criticar ou quem sabe elogiar. Nós queremos que você leia esse texto e procure conhecer mais sobre o esporte, pra após isso tecer seus comentários.

É muito fácil falar o que os outros querem ouvir. Eu poderia ficar dez horas aqui fazendo comparações assimétricas e sem o mínimo de base nenhuma, esperando um monte de homem me aplaudir por dizer que eles querem ouvir.  Que futebol feminino é secundário, que o futebol feminino tem que sentar e esperar a sua vez.

O problema é que o futebol feminino já foi silenciado demais. Chega.

O futebol feminino já esperou muito, já comeu muita migalha.

Não é cabível que um menino possa pensar na possibilidade de sobreviver como jogador de futebol no Brasil, e que um menina não. Estamos tão preocupados em encontrar o novo Neymar, que não pensamos nas Martas que temos por aí. Isso não é pedir o que não pode ter. Isso é justiça.

O futebol feminino não quer ser o masculino.

O futebol feminino quer apenas existir. E existir de maneira digna.

Não pedimos por super heróis para nos salvar.

Nós já somos nossas próprias heroínas.