She Believes Cup, Algarve e Champions. Quem tem Futebol no DNA pede passagem




Por Daniel Lopes

Esse mês foi marcante ao futebol feminino. Semana de DATA FIFA onde se confrontaram as principais forças da modalidade em dois importantes torneios e uma quartas de final de Champions League feminina de altíssimo nível. O Brasil, por considerar desvantajoso financeiramente, resolveu abdicar de mais uma DATA FIFA, segunda que já perde.

E há tempos, certa tendência que se mostra, se fez presente nas edições destes dois torneios e da Champions. França vencendo a She Believes numa conquista épica, com direito a 3x0 contra as anfitriãs do torneio, os EUA. A Espanha debutando e vencendo a tradicionalíssima Algarve CUP e uma champions feminina cada vez mais com cara de Champions masculina. E que tendência seria esta? Cada vez mais a geografia do futebol feminino está mudando. Países que tempos atrás, muito tradicionais no futebol masculino, mas pouco tradicionais no futebol feminino, vão ganhando cada vez mais espaço. O mundo do futebol feminino cada vez mais vai ficando parecido com o naipe masculino. Emergindo a força de países que tem Futebol no sangue, tem o DNA do esporte bretão.

A geografia do futebol feminino sempre foi diferente da geografia do futebol masculino. A exceção de Alemanha e Brasil (sim apesar de toda a nossa precariedade), a modalidade cresceu e ganhou protagonismo mais precisamente onde o futebol masculino não era protagonista. Países da Escandinávia, China, Coreia do Norte (categorias de base), Japão, Canadá e o maior de todos, o grande protagonista, a pátria do futebol feminino, os EUA.

Com programas de desenvolvimento encabeçado por suas federações, países muito tradicionais no futebol masculino começaram a investir e fomentar o futebol entre as mulheres. Países que até pouco tempo eram figurantes no cenário mundial, plantaram lá atrás e hoje já colhem os frutos. França tem um programa de inclusão de 100 mil meninas abaixo de 8 anos por ano. Inglaterra, Espanha e Holanda há tempos seguem por este caminho. Bélgica começa a mostrar serviço aos poucos também. Junto a isso, as ligas destes países começaram a profissionalizar de fato suas jogadoras. Clubes tradicionalíssimos, grandes marcas do futebol mundial, incrementando suas ligas e dando uma estrutura de treinamento diferenciada em relação a outros lugares do mundo, tradicionais da modalidade. São clubes tradicionais que realmente investem na modalidade, diferente do que se vê por aqui, infelizmente.

Essa mudança já se vê nessas quartas de final da Champions League feminina. Seis das oito equipes das quartas de final, são clubes tradicionais do futebol masculino europeu. Só duas equipes ainda são do tradicional futebol feminino, O dinamarquês Fortuna Hojring, onde joga a lateral brasileira Tamires e o sueco Rosengard, da lenda Marta. As demais são Lyon, PSG, Bayern, Barcelona, Wolfsburg e Manchester City. O desavisado que olhar essa tabela poderá pensar que é uma Champions masculina. E pelos resultados dos jogos de ida das quartas de final da competição na última semana, tudo indica que os escandinavos Rosengard e fortuna estarão fora das semifinais. Eliminados por Manchester City e Barcelona respectivamente. Barcelona que só há pouco tempo é de fato profissional no departamento de futebol feminino. Manchester City que a cada ano se reforça e fortalece mais. Foi buscar nessa janela de começo de ano somente Carli Lloyd, a detentora do prêmio de melhor jogadora do mundo nos últimos dois anos.

Então, aqueles países do tradicional futebol feminino, que se sobressaia da quantidade para tirar a qualidade, PRINCIPALMENTE OS EUA, hoje não tem mais esse diferencial. E estes têm tido dificuldades principalmente em suas categorias de base. Nesse caso particular EUA e países escandinavos. Novas forças chegaram e chegaram com outro diferencial. TEM DNA DE FUTEBOL NO CORPO, NA ALMA. Os Avós, os pais, os irmãos dessas meninas jogaram e jogam futebol e não beisebol, futebol americano, basquete. Jogam e praticam o futebol e não os esportes de inverno (hóquei, esqui). Obviamente que uma menina destas tem um talento nato maior para o esporte que as dos países que não tem essa realidade no cotidiano. Isso já se vê em campeonatos de base. Espanha, França e Inglaterra, sempre estão mandando equipes competitivas e cada vez obtendo resultados melhores.

Outro diferencial, que explicava muito a supremacia yankee e de certa forma ainda explica- porque ela não acabou é bom ir com calma na empolgação-era a preparação física. Com estas jogadoras, destas novas forças da modalidade, usufruindo da melhor estrutura de preparação física possível ao longo do ano, o desequilíbrio diminuiu. E a final destas duas competições de seleções e os dois jogos de ida dos times escandinavos contra espanholas e inglesas nas quartas da Champions, foram bem ilustrativos neste confronto do "Novo" x "tradicional" futebol feminino. França impondo uma vitória maiúscula diante dos EUA, sobrando taticamente, tecnicamente e fisicamente. Espanha que venceu o tradicional Canadá, vencera de forma maiúscula as tradicionais Norueguesas e o Japão. Barcelona e City mostrando toda a força da estrutura a seu dispor, que tem um calendário preenchido o ano todo, ao contrário dos times escandinavos.



Mas antes vamos RESSALTAR, para não soar como uma empolgação de certa forma oportunista em uma semana iluminada de duas forças novas no cenário do futebol feminino. Estamos apontando uma TENDÊNCIA. EUA por muito tempo será a grande força da modalidade. As forças tradicionais, principalmente da Ásia, continuarão sendo protagonistas. Mas a tendência está aí emergindo ano após ano. E tomara que o Brasil junto com a América do Sul, que tem esse DNA do futebol de sobra no corpo de nossas meninas, organizando um pouquinho só, chegue junto aí nesse pelotão. Alias, o Brasil sempre esteve, só na base do talento. Imagine tendo o mínimo do mínimo.  

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